Ser "sustentável" e ter só até o tamanho 38 não é fazer moda consciente
Por conta de meu trabalho com a Pop Plus, feira de moda plus size que produzo há seis anos em São Paulo, costumo visitar e frequentar todos os tipos de feiras de moda para fazer pesquisas.
E me sinto incomodada quando vejo marcas que se dizem conscientes mas que só chegam até o manequim 38, 40. Fico me perguntando: que tipo de consciência é essa que exclui pessoas de corpos maiores?
Ser "sustentável" e ter só até o tamanho 38 não é alternativa, e sim, uma nova forma de limitação
Há menos de 10 anos o gordo começou a ser incluído com um pouco mais de dignidade no universo da moda aqui no Brasil. Até então eu, por exemplo, tinha três opções de consumo: o departamento de gestantes — sendo que nunca tive filhos –, a seção masculina — sendo que não sou homem –, e as lojas de senhoras. Não há boa autoestima que resista a décadas sendo maltratada e ignorada, quando o que você queria era somente se vestir e estar inserida nas tendências da moda.
A luta por uma moda mais democrática é árdua, pois para a sociedade o corpo gordo é doente, preguiçoso e incapaz. E para o mundo da moda, magreza é sinônimo de elegância e pessoas gordas, de desleixo e cafonice.
Apesar do "boom" do mercado, na verdade, poucos da indústria já enxergaram esse público. No Brasil, somente 17% do varejo de moda atende o segmento, sendo que 56% dos brasileiros vestem plus size.
Hoje, enquanto muitas pessoas já podem se dar ao luxo de desapegar, milhões de outras ainda estão tentando se incluir no mundo da moda. Não são poucas as mensagens que recebo de mulheres que têm somente uma calça puída ou um vestido. Ou ainda, mulheres e homens que vestem acima do 54 que só conseguem se cobrir com uma canga ou lençol. Sim, isso é mais comum do que vocês imaginam! E sem roupa não conseguem emprego, estudo e convivência em sociedade.
Leia mais: Sem gordos na produção, o mercado de moda nunca vai mudar
A demanda pela moda plus size é tão reprimida aqui no Brasil, que o pequeno bazar que criei em 2012 virou o Pop Plus, hoje o maior evento de moda plus size do mundo, uma grande feira que atrai uma média de público de 12 mil pessoas e que na próxima edição, dias 8 e 9 de dezembro, vai ter mais de 90 marcas.
A cada feira ouço várias histórias de "primeiras vezes". E me emociono até hoje, seis anos depois. A primeira vez que uma mulher gorda de 30, 40, 50 anos se permitiu comprar um biquíni, uma blusinha de alça ou uma vestido curto. São inúmeras histórias de redescoberta do amor próprio.
Por outro lado, há uma fatia desse público que já se ocupou da moda como um assunto SEU e que está cada vez mais exigente e consciente. Estamos finalmente começando a nos ver em campanhas, na mídia, nas séries e no Instagram, depois de décadas de invisibilidade. Estamos também no início de um processo de ir além da questão e nos preocupar com a procedência dos produtos. E aí esbarram em mais uma exclusão, pois as ditas "marcas conscientes" não vão muito além do manequim 38. Alguns brechós moderninhos chegam a comprar peças de pessoas gordas para vender como oversized para pessoas magras mas não querem corpos maiores como seu público.
Sustentabilidade é também estar preocupado com as próximas gerações para que futuras meninas não sofram o que nós, mulheres, já sofremos até agora em termos de pressão estética e padronização dos corpos.
O desenvolvimento sustentável inclui todos para que todos cresçam juntos visando o bem estar da sociedade.
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