#GordofobiaNãoéPiada: até quando Danilo Gentili fará humor com preconceito?

A youtuber Alexandra Gurgel, que foi atacada por Danilo Gentili (Foto: Arquivo pessoal)
Em plena noite de Natal, tempo de paz e união, o humorista Danilo Gentili expôs para seus 16 milhões de seguidores a youtuber Alexandra Gurgel de uma forma não muito fraterna. A jornalista carioca havia sido personagem de uma reportagem da BBC Brasil sobre gordofobia e o apresentador do SBT, agindo como é esperado, fez uma piada com o tipo de corpo da criadora do canal Alexandrismos. Foi o que bastou para que ela fosse atacada de todas as formas possíveis na internet na noite de 25 de dezembro.
Porém o ataque teve efeito contrário e a discussão sobre o preconceito contra pessoas tomou as redes sociais desta terça-feira. A hashtag #GordofobiaNãoéPiada alcançou o topo dos Trending Topics mundial no Twitter. O vídeo resposta de Alexandra já teve mais de 2 milhões de views no Facebook e mais de 100 mil no YouTube. O que ainda é muito pouco perto do alcance de um apresentador do porte de Gentili, mas serviu para que muitas pessoas tomassem um primeiro contato com as questões levantadas por Alexandra, como a gordofobia, que é muito mais do que "mimimi", é uma realidade vivida por muitos.
Assim como Alexandra, muitas mulheres não abaixaram a cabeça para o preconceito e levantaram suas vozes, escrita e talento para mostrar que pessoas gordas também merecem respeito.
Gabrielle Deydier
Depois de 20 anos sofrendo todos os tipos de agressões psicológicas e físicas de familiares, médicos e empregadores por conta do seu tamanho, a francesa Gabrielle Deydier escreveu o livro "On ne naît pas grosse" ("Não se nasce gorda", em português). A obra desmitifica a figura da francesa magra, elegante e de bem com seu próprio corpo e relata os abusos sofridos por Gabrielle.
A escritora já foi entrevistada pelo The Guardian, The New York Times e The Times e diversos programas de TV, seu livro tornou-se um best seller e transformou a luta contra gordofobia em pauta em seu próprio país. O barulho gerado pelo livro de Gabrielle foi tanto que a prefeitura de Paris criou um "dia anti-discriminação por tamanho", dia 15 de dezembro, reunindo debates com ativistas, sociólogos, médicos e desfiles de moda.

Gabrielle Deydier (Foto: The Observer)
Rap Plus Size
Excluídas de vários rolês no hip hop por serem mulheres e fora do padrão, as rappers Issa Paz e Sara Donato uniram-se para fazer o disco "Rap Plus Size". Hoje levam para mulheres de todo o Brasil de uma forma direta e reta e versos contundentes, questões como gordofobia X pressão estética, machismo e a realidade da mulher da periferia.

Rap Plus Size (Foto: Divulgação)
Laura Contrera
A advogada e professora argentina é uma das vozes da mais atuantes da luta antigordofobia na América Latina. Criadora do blog GordaZine, em 2016 lançou em livro a compilação de textos "Corpos sem padrões: resistência das geografias desordenadas da carne", sem previsão de lançamento no Brasil. Devido ao seus esforços e de outras ativistas locais, o tema "a patologização da gordura" foi pela primeira vez debatido no Encuentro Nacional de Mujeres que aconteceu em outubro na cidade de Chaco, na Argentina.

Laura Contrera (Foto: Reprodução YouTube)
Luciane Barros
Cansada de ser preterida no mundo plus e na moda afro, a produtora e modelo Luciane Barros criou em 2013 o coletivo África Plus Size Brasil, para incluir mulheres negras e gordas. O grupo produziu workshops e desfiles em São Paulo e Rio de Janeiro e foi o responsável por introduzir os primeiros modelos plus na SPFW. Em 2017 integrou o grupo de dança Zona Agbara, com o qual se apresentou com o espetáculo "Vênus Negra" por várias cidades, arrasou na passarela da Casa de Criadores e brilhou em campanha da Chica Bolacha, uma das grifes all sizes mais conhecidas do Brasil. Alguém duvida que Luciane ainda vai conquistar o mundo?

Luciane Barros e o Africa Plus Size Brasil (Foto: Robson Leandro da Silva)
Você
Mulheres como Alexandra, Gabrielle, Issa, Sara, Laura e Luciane são mulheres comuns como eu e você que cansaram de baixar a cabeça para o ódio e o preconceito contra pessoas gordas e transformaram sua raiva e dor em luta. A batalha contra a gordofobia está apenas começando mas já se espalhando por várias partes do mundo e mudando a vida de várias pessoas. Amanhã você pode estar em uma lista como essa inspirando outras mulheres. Não importa se você é uma gorda saudável, doente, com a autoestima fortalecida ou abalada. Acima de tudo deve estar a luta por direitos, dignidade e respeito.
Leia mais: Racismo, ameaça e gordofobia: o que a violência online fez a estas mulheres
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