O que mantém as pessoas gordas fora do esporte é a hostilidade, não a preguiça
"Não existe roupa de ciclismo do seu tamanho". Foi assim que a maquiadora Niége Benedito, 26, foi recentemente recebida em uma bikeshop, depois de ter uma roupa masculina empurrada para ela. "Entrei em contato direto com o fabricante e eles trocaram a peça pra mim, por uma feminina do meu tamanho", me contou ela, satisfeita.
É com o "não existe" ou o "não pode" que constantemente mulheres gordas são recebidas em ambientes esportivos. E isso acaba inibindo a vontade ou necessidade de muitas de praticarem uma atividade física. "O que mantém as pessoas gordas fora dos ambientes esportivos é a hostilidade e não a preguiça", explica a jornalista Fabrina Martinez, 38, que criou o blog Gorda Esporte Clube para incentivar outras mulheres como ela a melhorar sua relação com os esportes.
Pois é, meus amigos. Tanto falam em nosso ouvido que a mulher gorda precisa fazer exercícios, mas nós não encontramos ambientes receptivos ou roupa adequada mesmo quando decidimos mexer o corpo. "Em academia sempre sentia uns olhares, risadas de deboche", disse Niége. Foi no ciclismo que ela se sentiu acolhida, mesmo com a experiência ruim na hora de comprar roupas. "Andando de bicicleta nunca me senti mal ou inadequada. Sempre senti que os outros ciclistas são bem bacanas."
Niége tem seus exames em dia e para encontrar a bicicleta mais adequada para o seu tamanho, passou pelo chamado bike-fit. "Um profissional mede todo o seu corpo, flexibilidade e etc para ajustar a bike pra que você fique mais confortável, sem se machucar e poder tirar mais proveito do esporte", conta.
É isso! Com orientação adequada, cada tipo de pessoa pode encontrar o esporte ou atividade física para o seu tipo de corpo e estilo de vida e não necessariamente para emagrecer (e se for também, é da conta de cada uma), mas para melhorar o condicionamento físico, respiração ou mesmo a disciplina. Quem não se lembra de Teresa Almeida, a Bá, goleira de Angola nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 ou do atleta Fernando Reis, integrante da equipe brasileira de levantamento de peso? Não há um só biotipo para ser um praticante de esportes ou mesmo um atleta.
A modelo Isabella Trad, 23 anos, já treinou muay thai mas se encontrou mesmo no futebol americano. "Estar em um time é incrível! Você aprende a se dedicar cada dia mais, aprende a contar com o outro e entender que o outro depende de você. A frase 'não consigo' não existe no seu vocabulário. Tudo que você treina em campo leva para a vida".
Os esportes nem sempre são inseridos de uma forma atrativa na escola. Eu, por exemplo, detestava esportes em grupo como o handebol, e era obrigada a jogar para não perder o ano em Educação Física. Mas adorava natação e praticava fora do colégio. Depois de adulta pratiquei Pilates, aulas de dança e hoje estou na yoga, que me ajuda a amenizar a ansiedade. Acho importante o corpo estar em movimento, principalmente por passarmos tanto tempo sentados trabalhando. O sedentarismo é ruim para pessoas gordas e também para as magras.
Atualmente Fabrina corre e treina para maratonas, faz Pilates e começou yoga, mas nem sempre sua relação com as atividades físicas foi amistosa. "Durante muito tempo, o esporte foi pra mim uma punição por ter comido demais ou uma forma de ter um corpo menor. Primeiro, eu me matriculava em alguma atividade esportiva por ter que emagrecer e com o tempo, eu me sentia feliz em estar ali, logo, emagrecer deixava de ser minha prioridade. Eu evoluía no esporte mas não emagrecia. E isso era um problema. Eu estava feliz e saudável mas a decepção dos meus professores e treinadores era palpável. Então, eu abandonava". Até que o dia em que entendeu que o esporte era sobre sua relação consigo mesma. "O meu foco é fazer coisas que me façam bem, independente do tamanho do meu corpo".
O movimento "fat yoga" já é conhecido nos Estados Unidos e Austrália, com muitas yoginis gordas incentivando a prática nas redes sociais, mas no Brasil ainda não há tantos adeptos. A professora Vanessa Joda, 37, é uma das poucas que abraçou a causa e há 1 ano abriu a escola Yoga Para Todos, na qual recebe alunos todos os tipos de corpos, muitos até rejeitados por professores gordofóbicos. "A yoga é autoconhecimento e este inclui o corporal. Você tendo consciência do seu corpo e do que ele pode fazer você consegue fazer tudo independente do peso ou tamanho que você tenha", conta Vanessa.
Para incentivar mais mulheres gordas a praticar esportes, Isabella dá o recado: "Procure lugares especializados, lugares sérios que vão te cobrar rendimento e não emagrecimento". Fabrina complementa: "Você não é uma intrusa, esse espaço que você deseja ocupar também é seu. Se aproprie dele e seja feliz.
Para as mulheres que têm dificuldade em encontrar moda fitness ou esportiva plus size, preparei aqui uma listinha com marcas brasileiras com grade generosa. Adoraria ver linhas plus size para surfistas e skatistas e outros tipos de esportes.
Deia Fitness – A marca paranaense trabalha do 44 ao 70 e envia para todo o Brasil
Wonder Size – A nova marca paulista oferece do 44 ao 66
Gamaia Esportes – Tradicional marca do interior de SP que conta com linha plus size até o 56
La Curvy – Nova marca catarinense que oferece moda fitness do 44 ao 54
Physical Fitness – A grife gaúcha conta com uma linha plus size
Free Force Brasil – Loja onde a Niége encontrou roupas para andar de bike, do G ao 3G
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.