Não ligo de ficar velha, mas tenho medo de me tornar irrelevante
Flávia Durante
08/03/2019 00h01
Madonna. Créditos: Getty Images
Sempre lidei bem com a passagem do tempo. Acabei de completar 42 anos e estou curtindo cada minuto de minha idade. Não me incomodo com rugas. Nunca me achei errada e nem deixei de fazer nada por ter ganhado peso ao longo dos anos. Tá, cabelos brancos eu acho um pé no saco, sempre gostei muito dos meus cabelos escuros. Mas morro de preguiça de pintar todo os meses e às vezes deixo meio palmo de raiz à mostra.
Meu maior medo não é de morrer ou de ficar velha, essas coisas fazem parte da vida. Meu medo é me tornar uma pessoa ultrapassada ou irrelevante. Isso eu confesso que tem sido o mais difícil de lidar.
Como uma mulher que sempre gostou de estar à frente das novidades da música, da tecnologia e da comunicação, o que me inquieta é a sensação de não conseguir mais acompanhar tudo como antes e de estar perdendo o bonde da história.
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Os convites para os eventos mais bacanas começam a rarear, você deixa de ser a referência dos amigos para saber qual é a banda nova mais legal pra se ouvir, aquele app novo que parece mais difícil de entender, você começa a sentir a presença do etarismo em diversas situações.
A frase que você mais fala e ouve dos amigos de sua geração é: "quem é fulano que tem 10 milhões de seguidores e que eu nunca tinha ouvido falar?"
Cena da série "30Rock"
Tenho uma sobrinha de 9 anos que é o meu termômetro de novidades. Comecei a acompanhar alguns youtubers para ter assunto com ela mas logo vi que não eram para mim. Por que eles gritam tanto? Instalei o tal do Tik Tok, uma espécie de Instagram musical, e quase caiu uma lágrima furtiva por não ter entendido lhufas daquilo enquanto ela lida com a maior habilidade e faz milhares de efeitos.
As gírias até que não são difíceis de acompanhar. "Que hino", "cristal sem defeitos", "fada sensata", "gado D+", "tour", "hoje eu tô um nojo de linda"… Eu me divirto com e costumo misturar essas novidades com as gírias vintage "antenado", "cabuloso" ou "paquerinha", o antecessor do "crush".
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Senti também uma volta aos 17 anos no meu estilo de vestir, uma espécie de "crise da meia idade fashion", usando muito jeans rasgados, tênis e camisetas de banda. Como fiquei num vácuo de uns 20 anos sem ter roupas do jeito que sempre gostei por causa do meu peso, agora que a moda evoluiu um pouco nesse âmbito, voltei a me vestir de acordo com a minha personalidade.
Os cool hunters adoram criar termos para essas gerações. Eu seria uma típica "perennial", mulheres que já passaram dos 40 mas que têm hábitos típicos dos 20, não têm empregos convencionais, que adoram acompanhar tendências e que não têm medo de mudanças.
Mas nem curto me encaixar nesses rótulos. Tento unir o melhor dos dois mundos.
No ano passado finalmente realizei minha tão esperada "viagem dos sonhos" para conhecer a Inglaterra e a Escócia. Fui tietar a banda da minha vida, o Teenage Fanclub, em uma turnê especial sua cidade de origem, Glasgow. Conheci todos os lugares por onde David Bowie, os Kinks e Amy Winehouse transitavam em Londres. Fiz tudo o que tinha direito e vontade. O que provavelmente eu não conseguiria aos 20 anos por pura falta de grana.
Embora tenha optado por não ter filhos, ainda me permito sonhar com a casa própria e, ao lado do meu marido, batalho pela tão difícil estabilidade. Pelo visto vou morrer aos 90 anos trabalhando, como todo brasileiro… Brinco com os meus tios de 67 anos que eles são a última geração de aposentados que puderam curtir sua velhice numa boa.
Por outro lado, há aquele medo de me tornar uma personagem caricata, uma espécie de Phil Dunphy da série "Modern Family", o paizão metido a descolado que faz os filhos morrerem de vergonha.
Como disse um amigo certa vez no Facebook, todo dia eu rezo pra Deus me livrar de dois destinos: ser o tiozão que só fala "no meu tempo" ou o velho obcecado com "essa meninada genial".
E é buscando esse equilíbrio que vou levando a vida, tentando deixar de lado as paranoias de ficar ultrapassada e irrelevante. Valorizando as coisas boas do passado, sem parar no tempo, e sem perder o encantamento pelo que vem pela frente. Curtindo cada coisa no seu tempo. É isso que me motiva a viver um dia de cada vez. Tenho ainda muitos sonhos a realizar, muitas viagens para fazer e muitos discos para ouvir. Agora com a companhia da minha sobrinha de 9 anos e da nova sobrinha que nasce em maio.
Sobre a autora
Flávia Durante tem 41 anos e é comunicadora, DJ e empresária nascida em São Paulo e criada em Santos. Desde 2012 produz a Pop Plus, feira de moda e cultura plus size, com média de público de 10 mil pessoas por evento. Ao longo destes 6 anos tem desmistificado conceitos e conselhos que mulheres (e homens também) vem ouvindo há décadas sobre os padrões da moda.
Sobre o blog
Um espaço para falar de mercado e moda plus size, beleza, acessibilidade, bem estar e autoestima.