"Engordou, hein?" Como responder a comentários malas na ceia de Natal
Flávia Durante
20/12/2018 05h00
"Nossa, mas você vai comer mais?"
"Você não acha que está muito gorda pra usar isso?"
"Se você emagrecer vai encontrar logo um marido"
Época de festas de final de ano é a pior em termos de comentários inconvenientes de familiares e de parentes distantes sobre peso e tamanho, como se nossos corpos fossem de domínio público. Um constrangimento anual desnecessário, que nem todo mundo está disposto a passar pela milésima vez.
Como nem todo mundo é bateu-levou e a resposta muitas vezes só vem horas depois — há até um termo em francês para isso: "L'esprit d'escalier" ou "a resposta da escada", quando o revide perfeito só vem quando você está lá na esquina –, perguntei a uma série de pessoas como elas lidam com a fatídica apurrinhação natalina sobre peso.
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Maíra Medeiros, youtuber. Foto: Arquivo Pessoal
"Vira e mexe eu sou pega de jeito com perguntas, piadinhas e comentários inconvenientes sobre meu corpo nas festas de final de ano. Isso acontecia até quando eu era magra e super novinha! Durante muito tempo ficava paralisada ou até mesmo ia pra um cantinho chorar, mas atualmente eu não deito mais pra ninguém que queira diminuir minha imagem! Quando começam os comentários, eu deixo a pessoa desenrolar o pensamento preconceituoso dela e me mostro interessada. Aí respondo: 'depois que vi como ficar pensando em dieta e em como mudar meu corpo tomava meu tempo, passei a focar em outros aspectos da minha vida, como minha carreira por exemplo. E apesar de você não ter perguntado, porque pra você minha aparência é mais importante que meus feitos, estou indo muito bem no trabalho, obrigada'", conta Maíra Medeiros, youtuber.
Vanessa Joda, professora de yoga. Foto: Robson Leandro da Silva
"Sou tolerância zero, tanto que vou passar o meu aniversário e o Natal sozinha, sem ter que escutar a pergunta de quando eu vou fazer a bariátrica e de todos falando que estão fazendo 'gordices' e comendo 'feitos porcos'. Quero estar bem longe de gente assim!'", fala Vanessa Joda, professora de yoga.
Fabrício Nobre, músico e produtor de eventos. Foto: Rodrigo Gianesi
"A pior coisa é quando tratam a pessoa gorda como se tivesse um desvio de caráter, ou problema de saúde, ou acham que você é gordo porque não tem tempo para se dedicar à saúde. 'Nessa loucura de trabalhar à noite, com shows, nem sobra tempo para se dedicar a esporte ou organizar a alimentação né?,' me dizem. 'Se vc tivesse uma profissão normal, poderia ser mais magro, né? Mais saudável, iria ficar ainda mais bonito. Você deve estar com 120kg, né? E suas filhas, que exemplo vai dar?'. Minha vida é uma resposta a isso. Adoro o que faço, amo trabalhar com shows e eventos. Sou perdidamente apaixonado por uma mulher gorda linda. Incentivo minhas filhas a viver bem, estudar, brincar, ouvir música, nadar, jogar, comer bem e é isso. Não tem nada de errado em você ser gordo. Não é feio, não é sinal de preguiça nem 'um estilo de vida desregrado'. Se as pessoas me abordam falando m* e eu não tenho liberdade com elas, vou de leve no posicionamento. Se eu tenho liberdade, ferrou, despejo tudo na cara e aí, amigo, não tem ceia que resista", fala Fabrício Nobre, músico e produtor de eventos.
Joyce Carolina, dançarina e modelo. Foto: Arquivo Pessoal
"Todo ano é a mesma coisa, né? Vivi anos da minha vida sem responder, mas hoje já consigo. E a resposta é simples e clara: 'em vez de ficar se preocupando com meu peso, preocupe-se com meus boletos. Tem uma pastinha ótima disponível para pagamentos'. Se cada um cuidasse da própria vida o mundo seria bem melhor", diz Joyce Carolina, dançarina e modelo.
Fabiana Souza, psicóloga e modelo. Foto: Carol Fernandes
"Adoto uma postura otimista que costuma desfazer qualquer intenção maldosa de quem tece comentários sobre o meu peso: finjo que a pergunta foi sobre o meu ano e só ressalto os pontos positivos! Falo sobre as viagens que fiz, as pessoas que conheci, as conquistas pessoais e profissionais, ressaltando a gratidão por mais um ano vivido. Das duas uma: ou a pessoa esquece o comentário que fez e entra no meu assunto ou fica sem graça e não retoma a pergunta desnecessária, entendendo o recado!", afirma Fabiana Souza, psicóloga e modelo.
Podem até pensar "ah, o mundo está ficando chato" mas chato mesmo é aturar tia-avó, prima de terceiro grau, cunhado tomando conta da sua vida sem nem fazer parte dela o ano inteiro. Os tempos estão mudando e nada melhor do que todo mundo reunido na mesa da ceia pra você mandar aquele recadinho esperto. Seja de forma bem-humorada, pedagógica ou "tolerância zero", o importante é não levar desaforo pra casa embrulhadinho no tapaué! 😉
Sobre a autora
Flávia Durante tem 41 anos e é comunicadora, DJ e empresária nascida em São Paulo e criada em Santos. Desde 2012 produz a Pop Plus, feira de moda e cultura plus size, com média de público de 10 mil pessoas por evento. Ao longo destes 6 anos tem desmistificado conceitos e conselhos que mulheres (e homens também) vem ouvindo há décadas sobre os padrões da moda.
Sobre o blog
Um espaço para falar de mercado e moda plus size, beleza, acessibilidade, bem estar e autoestima.