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Flávia Durante

Menos treta, mais ação: militantes antigordofobia revelam desejos para 2018

Flávia Durante

22/12/2017 04h00

Bernardo Boechat (Foto: Caio Cal)

A discussão sobre a visibilidade gorda evoluiu muito nos últimos anos. Mas em alguns momentos o debate emperra e continua em um eterno vai e vem, como discutir quem é ou não plus size, a hipervalorização da beleza ou se celulite é representatividade. Enquanto pautas de extrema importância como acessibilidade no transporte público ou atendimento humanizado na saúde continuam praticamente ignoradas.

Conversei com militantes, youtubers, empresários, blogueiras e artistas ligados ao segmento plus size da moda ou ao ativismo gordo sobre assuntos que eles acham que deve ser pauta em 2018:

"Espero que a gente possa debater menos sobre o corpo e mais sobre onde esses corpos podem ocupar. Menos se a pessoa está magra ou gorda e mais se tem cadeira, catraca, maca ou roupa pra ela usar. Meu sonho pro ano novo é que a gente se preocupe menos com quem o outro é e mais se ele tem garantidos os meios para poder ser quem ele quiser", Bernardo Boëchat, youtuber do canal Bernardo Fala

"Gostaria muito que discutíssemos mais sobre a adaptação da indústria da moda para o Plus Size. Desde inclui-lo na formação de profissionais de moda em geral, – escolas técnicas, profissionalizantes e cursos superiores -, até na confecção de equipamentos industriais preparados para corte, costura e modelagem. Acredito que se a indústria se adaptar aos tamanhos grandes, podemos ter produção em larga escala e com isso baratear produção e ter mais opções. Adoraria também ver mais discussões sobre alfaiataria e mais coleções plus size assinadas por estilistas de renome", Danielle Rudziavicia Moraes, blogueira do Rudz Blog

"Espero ver discutido em 2018 as diferenças de abordagens de mercado e de conceitos entre moda plus size e moda para gordos. Masculinidades e representatividade do homem gordo. Desafios arquitetônicos para acessibilidade da pessoa gorda (por exemplo: banheiros, cadeiras etc), representatividade gorda LGBT, militância gorda virtual (blogs e YouTube) x militância gorda politíca (como o movimento gordo em Salvador, que busca participação política) e a importância de pessoas gordas como empreendedoras de negócios", Franz Wasielewski, fotógrafo e produtor do Hashtag Bazar, feira de moda plus size que acontece no Rio de Janeiro

Preta Rara. (Foto: Divulgação)

"Que tenha mais mulheres gordas reais nos comerciais, TV e videoclipes. Que seja de uma forma natural, assim como as magras. Que não seja algo 'nossa, uma mulher gorda!"', Preta Rara, rapper, poeta e documentarista

"Que em 2018 a gente possa avançar no debate antigordofobia fora do campo virtual. Que a gente consiga apoio de diversos setores inclusive da administração pública, que possamos aproveitar do período eleitoral para cobrar dos candidatos a presença de medidas para a acessibilidade do corpo gordo em seus projetos de campanha. Que a gente ocupe cada vez mais lugares, para alcançarmos mais pessoas (gordas) para que possam se impor socialmente e também começarem a exigir os seus direitos", Kalli Fonseca, blogueira do Beleza Sem Tamanho 

"Tudo o que a gentenão encontrava em lugar nenhum até 5 anos atrás, hoje está aí nas prateleiras, nas feiras, nas lojas virtuais e também nas lojas de rua. A oferta ainda é pequena? Sim. Mas a procura ainda também. Por que? Porque falta informação. Falta o empreendedor de moda plus size ocupar lugares que não sejam óbvios. E falta também a mulher gorda, a consumidora, ocupar os espaços onde todo mundo está. A gente evoluiu muito porque brigou e bateu o pé, porque pediu. Agora precisamos conhecer e reconhecer os passos dados e caminhar junto. Chega de ficar no cantinho, na ala especial, né? Falta a gente, enfim, ocupar uma posição de protagonismo", Mariana Camargo, advogada, proprietária da marca Clamarroca Plus e do Espaço Clamarroca, em São Paulo

"Em vez de discutir as celulites da Anitta, podíamos conversar sobre o porquê de temos tão pouca representatividade de mulheres fortes na mídia a ponto de precisarmos tratar uma cantora pop em sua trajetória extremamente comercial como militante. Sabemos que a moça teve posturas que indicam um posicionamento, mas será que não tem mais mina foda fazendo coisa foda pra gente celebrar ao invés de ficar obcecando a respeito de uma bunda?", Babu Carreira, atriz e comediante

Alexandra Gurgel. (Foto: Caio Cal)

"Quero que seja discutido o acesso das pessoas gordas nos locais públicos, assim como escolas e faculdades. Até quando vamos ver gente passando por gordofobia por não conseguir sentar em uma cadeira? Por não passar em uma catraca, por não ter possibilidade nem de fazer um exame de sangue porque não cabe no assento? Gordofobia mata! Que isso se torne uma pauta em 2018!", Alexandra Gurgel, jornalista e youtuber do canal Alexandrismos

"Desejo que o avanço seja prático. Tratamento médico humanizado, acessibilidade e apropriação de espaços porque queremos e não pra cumprir a agenda de pessoas magras. Que a gente possa entrar e sair de qualquer lugar sendo vistos pelo que somos: pessoas. Que seja prático e que seja rápido. Já deu de exclusão", Fabrina Martinez, jornalista e criadora do blog Gorda Esporte Clube, que discute e incentiva a inclusão de pessoas gordas no esporte e atividades físicas

"Em 2018 espero que o foco das discussões seja o coletivo, não o indivíduo. Falar sobre como o mundo é pensado para pessoas magras e sem deficiências e nas implicações da falta de acessibilidade, seja nos meios urbanos, hospitais, transporte e etc. Se possível, que a gente comece a refletir em como compreender um corpo como doente baseando-se apenas no seu tamanho é nocivo para todos", Rachel Patricio, ativista e sócia de um estúdio de tatuagem

Sobre a autora

Flávia Durante tem 41 anos e é comunicadora, DJ e empresária nascida em São Paulo e criada em Santos. Desde 2012 produz a Pop Plus, feira de moda e cultura plus size, com média de público de 10 mil pessoas por evento. Ao longo destes 6 anos tem desmistificado conceitos e conselhos que mulheres (e homens também) vem ouvindo há décadas sobre os padrões da moda.

Sobre o blog

Um espaço para falar de mercado e moda plus size, beleza, acessibilidade, bem estar e autoestima.

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